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Afinal, as crianças são iguais?

Atualizado: 29 de jul. de 2022



Há anos, estudiosos do mundo todo

pesquisam a primeira infância e a importância dos cuidados para crianças desde muito cedo. As creches e escolas privadas no Brasil vem sofrendo alterações constantes na maneira de agir e de pensar a infância, colocando cada vez mais a criança como foco do processo educativo.


Esta visão da criança como protagonista da aprendizagem já era preconizada por Maria Montessori, que no fim dos anos 1800 já tratava crianças com necessidades especiais como iguais. Essa visão ganhou ainda mais espaço nos anos 50 na cidade de Reggio Emilia, Itália - após a 2ª Guerra Mundial - com a figura do educador italiano Loris Malaguzzi, que entendia a escola como lugar de relações no qual a criança é detentora de direitos e o professor um mediador da aprendizagem.




Embora as instituições privadas busquem mudanças nesse sentido, há uma cisão ideológica entre esta visão, que coloca a criança no centro, e a perspectiva e prioridades do governo, o qual coloca imperativos econômicos à frente da preocupação com o bem-estar das crianças. Atualmente, com a pandemia, isso ficou ainda mais evidente, uma vez que o governo, de maneira geral, priorizou a abertura de diversos setores que influenciam diretamente na economia do país e a educação ficou de lado, por não ter tanta influência econômica.


O cenário da educação no Brasil no ano de 2020 foi muito semelhante ao que Charles Dickens narra em sua obra Tempos difíceis (1854): “uma caricatura da escola que descarta a imaginação, a exploração, a fantasia e o mundo natural em favor de uma tentativa de encher as cabeças das crianças com informações que são divorciadas de suas experiências cotidianas”, a partir do momento em que as instituições de ensino adotaram as aulas remotas e gravaram aulas iguais para todas as crianças de uma turma (por vezes, até mais de uma turma), sem pensar nas características de cada sujeito, sem considerar o potencial de cada criança, sem buscar entender as experiências de cada uma delas, contextualizando o conteúdo das aulas sem considerar a real necessidade individual. Essas aulas ensinam todos os conteúdos de uma só maneira e forçam todos a serem iguais em frente às telas. É preferível, para o governo, correr o risco dos alunos ficarem no sofá, em frente à televisão, sem estudar, sem pensar, tornando-se cidadãos alienados, sendo


assim, um prato cheio para os governantes.


Quando pensamos em protagonismo da criança dentro da escola, afirmamos com convicção que todas são diferentes. Os educadores devem conhecer ao máximo cada um de seus alunos e, assim, proporcionar experiências de forma que eles possam aprender melhor. Faz-se necessário individualizar o ensino e pluralizá-lo ao mesmo tempo, ou seja, dar a cada um o que precisa, de diferentes formas, olhando também para o coletivo. Há diversas formas de ensinar, porque alguns aprendem melhor através de histórias, outros com debates, com jogos, por meio de filmes, diagramas ou exercícios práticos. Se o aluno entende bem de um assunto, ele pode pensar sobre esta perspectiva e expressar-se através da escrita, desenhos, debates, brincadeiras, jogos e, assim, ter um entendimento completo.


Afinal, não é isso que desejamos para nossos filhos? Que sejam criativos, inovadores, críticos, pensantes e que aprendam tudo, e especializem-se em algo que gostam mais? Que sejam tratados na sua individualidade e com respeito? Com o cenário educacional que temos atualmente, infelizmente as perspectivas não são muito esperançosas. Estudos já mostraram que sentiremos por muitos anos o impacto negativo desse período de escolas fechadas e instabilidades na esfera educativa. Contudo, não podemos desistir, pois, com certeza, vale a pena o investimento em abordagens inovadoras para que nossas crianças cresçam como adultos questionadores e criativos.


ZULEICA MALUCELLI – advogada pela UFPR, Pedagoga pela UNICID, musicis

ta pela EMBAP. Especialista em Musicalização, em Gestão nas Organizações Educacionais e em Psicanálise na Educação. Diretora e coordenadora pedagógica da Escola de Música Da Capo, desde 1990.

ANA THEREZA MALUCELLI DE ALBUQUERQUE – psicóloga pela UFPR, especialista em Educação Infantil pela UP, bailarina formada pelo Petit Ballet do qual faz parte do Corpo de Baile. Coordenadora do ateliê de Ballet no CEI Aurora, desde 2009.

Viajam pelo mundo conhecendo escolas e propostas educacionais inovadoras para trazer o que há de melhor em educação de bebês, crianças pequenas e crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental. Diretoras e coordenadoras pedagógicas da Escola Aurora- Educação Infantil e Ensino Fundamental I- , desde 2009, e do Aurora Espaço Bebês desde 2014. Sócias-proprietárias da AZM Assessoria Educacional, através da qual ministram palestras e workshops sobre diversos temas ligados a abordagens educacionais inovadoras em várias cidades e escolas. São membros atuantes da Rede Pikler Brasil, da Rede Pikler Nuestra America e da Rede Pikler Internacional, apresentando trabalhos em encontros e seminários internacionais sobre a Abordagem Pikler e sobre a Abordagem de Reggio Emilia.


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