13 de outubro de 2021. Uma mulher foi brutalmente atacada, assediada e estuprada dentro de um metrô na Filadélfia. Todo o ato de assédio, violência psicológica, emocional e física ocorreu por cerca de 45 minutos.
Um crime extremamente cruel.
Todavia, o que mais chocou a polícia local é que havia outros passageiros no vagão, e a única providência vindo deles foi sacar seus smartphones e filmar a ação do criminosos. Simplesmente assistiram às cenas de horror através de suas telas. Alguns minutos depois do deleito dos espectadores, em uma parada, um passageiro entrou e acionou a força policial, que chegou em aproximadamente 8 minutos. O agressor foi preso em flagrante e a vítima encaminhada para o hospital.
Na hora em que li a reportagem, a minha primeira reação foi de indignação, de impotência e um sentimento de profunda tristeza. Primeiro, porque mulheres ainda sofrem esse tipo de violência – que ocorre de forma tão banal.
Mas, em um segundo momento, o sentimento foi de total desilusão com a humanidade. Afinal, pergunto-me: no que estamos nos tornando?
Em que momento deixamos ser seres racionais, ditos civilizados e humanos? É nítido que estamos pouco a pouco perdendo a capacidade de sentir empatia.
É como se caminhássemos na beira de um precipício, atiramo-nos de olhos fechados rumo ao fundo de um mar repleto de futilidade e de inutilidade.
O que aqueles passageiros do trem estavam pensando? Nos seus likes nas redes sociais? Na quantidade de visualizações que teriam em seus canais? Ou, simplesmente, achavam que estavam maratonando uma série do momento. Presos em mundo paralelo entre o real e o imaginário. Incrédula e cheia de perguntas, fui atrás de mais informações sobre o crime, afinal, na minha concepção, havia algo de errado. Talvez os demais passageiros fossem cúmplices do agressor. E na minha busca por entendimento tudo o que encontrei foi desesperança. Pois, em algumas das reportagens pesquisadas, leu-se: “O ataque ocorreu depois que a mulher tomou algumas cervejas depois do trabalho e por engano embarcou no trem errado”. E com isso uma pergunta começou a me atormentar: O que essa informação tinha de relevante com o crime? Então eu entendi.
Li nas entrelinhas das notícias que a vítima havia sido julgada e condenada culpada. Pois interpretava-se que, o fato de ela ter bebido algumas cervejas, deixou de forma conotativa escrito em sua testa em letras garrafais: DISPONÍVEL PARA ATAQUES DE CUNHO VIOLENTO E SEXUAL. Sim, a culpa era toda dela.
Confesso que não entendo o porquê da nossa sociedade ainda insistir em culpar as mulheres por suas dores e desgraças. E ainda me pergunto: por que carregamos o fardo da culpa e o estigma de que o agressor foi provocado e, por isso, obteve autorização para cometer tal ato de desumanidade?
E em meio a tantos porquês, fico a pensar que em seis milhões de evolução da humanidade, não desenvolvemos os sentimentos mais simples, são empatia, amor ao próximo e solidariedade. Palavras que, no dicionário da língua portuguesa, são quase que sinonimos de uma única palavra: respeito.
Daniela Amaral
Revisão textual: Jhenyffer Nareski Correia - @j.nareski
Abordagem do texto traz uma reflexão sobre a violência contra a mulher retratado de forma machista e preconceituosa pela sociedade que trata a vítima como culpada pelo ato do agressor, mostra como é grande a falta de empatia das pessoas em relação às vítimas e a conscientização da sociedade se faz necessário para ocorrer mudanças nesses comportamentos e tragam leis mais rigorosas para os agressores para que os mesmos não saiam impunis e façam mais vítimas e as vítimas tenho todo apoio e o suporte necessário.
Adorei o texto. Trás uma reflexão sobre um tema muito abordado nas mídias, mas que na verdade é pouco combatido. Parabéns pela oportunidade de ler seu texto .
Texto profundamente reflexivo!
Desperta interrogações e o imenso sentimento de que levantar a voz através da escrita, é ato de coragem sim, e mais, é imprescindível que a empatia e o respeito estejam presentes em nossas manifestações escritas e faladas. Somos mulheres, e se machuca uma, atinge a todas.
Estou com você Daniela.♡