Dia desses li um tweet que dizia: “o eu de 2019 não acreditaria no que aconteceu comigo nesses 3 anos”. De início, isso passou pela minha atenção e foi embora. Ou eu achei que tivesse ido. No caminho para a faculdade, enquanto ouvia uma música melancólica, prendi meu olhar no céu e comecei a reparar nas nuances dele.
Então, naquele momento que as cores passam do laranja para o preto e se troca o Sol pela Lua, aquela mensagem retornou e evocou um turbilhão de pensamentos. De repente, eu estava imersa no refletir, sentindo os calafrios e os arrepios que toda catarse provoca quando se dá conta de algo sobre si ou sobre o mundo que jamais se permitira ou ousara perceber até então. Flexibilidade é uma habilidade que está além de aceitar as coisas como elas são, talvez esteja mais próximo de, considerando o que se tem, continuar agindo e existindo. Olhar, passivamente, a paisagem que vejo através da janela do ônibus capturou fragmentos desconhecidos da minha memória.
Trânsito, buzinas, asfalto, concreto, sinaleiros, tubos e terminais. Memórias mais urbanas, mais barulhentas e mais distantes. O que detém meu olhar agora é bem mais vívido e destoante: o verde; das árvores e das plantações. O caminho para a faculdade mudara, jamais seria igual ao que já foi um dia. Não é comparável, certamente, e por isso só percebi agora a contrastante mudança. Vou a cidades que não faziam parte da minha rota, escuto falas e sons distintos, como os erres mais presentes ou as músicas das quais nunca achei que gostaria. Será que olho para o mesmo céu? Será que meus olhos são os mesmos que já olharam o céu antes? Tudo mudou.
Diria melhor, muito foi acrescentado ao que se tinha. Não sinto que perdi nada. Na vida nada de se perde, se gasta. O tempo se gasta, como Rachel de Queiroz alertara: “gastar não é perder, é usar até consumir”. Por isso o novo se apresenta de uma maneira original todo dia, inaugura-se para dar a chance de experimentá-lo, de gastá-lo. Afinal, há um abismo entre acontecer algo inédito e vive-lo. E eu pretendo consumir o novo, até a última gota. Sinto-me constantemente em expansão. E isso é bom. Muito bom, na verdade. Finalmente estou experienciando. É, Drummond, há coisas visíveis das quais não ousamos compreender, mas as sentimos com certeza. Sim, realmente, há algo de arrebatador no anoitecer: Lua, céu, luzes e paisagem velozes e distorcidos me colocam no vasto lugar, no corredor do inconsciente, pronta para me permitir gastar o novo.
Jheniffer Nareski
Conto profundamente bonito. Quantas mudanças aconteceram em 3 anos não é mesmo? E que bom né :3