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Em dia de visita

Atualizado: 18 de out. de 2023



Então um dia eles avisaram que viriam passar uns dias conosco. E imediatamente, mais rápido do que a raposa do Pequeno Príncipe, a gente começou a ser feliz. E felicidade, você sabe, é assim, permeada de planos que parecem sonhos prestes a se realizar. Às vezes me pergunto se as pessoas sonham mais porque são felizes ou se são felizes porque sonham mais. Nunca obtive uma resposta, mas o fato é que a vida é feita de alternâncias, e há que se aproveitar quando a emoção da vez é a alegria.


E foi isso que fizemos. Quando eles avisaram que vinham de tão longe – da África, do Nordeste, do Planalto Central, do interior do Paraná – apenas para passarmos alguns dias juntos, o sentimento foi mesmo de alegria e gratidão. E aí foi aquela pressa, dá-lhe cuidar da casa, das comidinhas, planejar passeios, ajeitar coisas, tentar deixar tudo bonitinho para quando chegassem. Bobagem. O que a gente faz mesmo é arrumar uma porção de tarefas para antecipar a alegria da chegada.


E então eles chegaram. E foram dias tão bons que a gente fez de conta que era pra sempre, ou pelo menos para muito, muito mais tempo. Mas você sabe, o tempo passa, o tempo voa, e a poupança Bamerindus continua numa boa... Brincadeiras à parte, a verdade é que o tempo passou, voou, e eles foram embora carregando suas malas, sacolas e sonhos. Filhos, irmãos, sobrinhos, cunhados, netinhos de todo tamanho pegaram seu rumo, foram cuidar da vida, de suas escolas, seus empregos e seus boletos. E a gente ficou triste, pensando que a casa ia ficar vazia demais...


Não ficou. Uma saudade doce encheu a casa, e é certo que ela é pra sempre. E vez ou outra a gente tropeça em algum brinquedo, encontra alguma peça de roupa, aqui e acolá um livro, um carregador de celular, algum fone de ouvido, um vinho, uma caneta – pequenas coisas que, na pressa, ficaram esquecidas, espalhando pela casa a lembrança de dias tão bons.

E o que ficou disso tudo foi a renovação da certeza de que o amor gosta de conviver, e que o importante, como me disse um poeta um dia, é que a emoção permaneça. Que assim seja!


Curitiba, 06 de setembro de 2023


Por Maria do Carmo Batiston

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