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Habitação de interesse social: as cidades precisam mudar urgentemente

Atualizado: 29 de jul. de 2022

Mariana Roldo

As cidades grandes brasileiras, atualmente, apresentam uma enorme quantidade de vazios urbanos decorrentes de planejamentos que não acompanharam o desenvolvimento. Os vazios urbanos incluem desde lotes vazios a terrenos subutilizados, que não cumprem com a sua função social.


Este fenômeno está diretamente ligado com o estilo de vida que perdura desde a Segunda Revolução Industrial, que tornou o cidadão extremamente dependente do automóvel para os seus deslocamentos diários. Tal fato acabou motivando mudanças da paisagem e a ocupação do solo urbano, facilmente notadas pela quantidade de estacionamentos térreos e edifícios garagem presente nos centros urbanos. O grande problema desses lugares existirem repetidamente é a diminuição da animação urbana, que torna as cidades cada vez mais inóspitas e inseguras.


Em Curitiba, desde o início do século XX, a área central concentra as principais atividades comerciais, financeiras e os serviços, tanto públicos como privados. Essa homogeneidade de atividades deixou o preço do m² mais elevado, o que afastou muitas pessoas que habitavam o centro e fez com que novas moradias surgissem cada vez mais na periferia da cidade. Os proprietários dos imóveis inabitados ficaram à espera do retorno dos investimentos imobiliários, que não aconteceu, e acabaram tendo suas propriedades ocupadas irregularmente, induzindo ainda mais o afugentamento da população do centro da cidade. Junto aos vazios urbanos causados pelas novas necessidades do cidadão brasileiro, surge, portanto, o aumento da demanda por moradia digna e de custo menor.


Estima-se que, em 2015, 1 em cada 33 pessoas não possuía moradia digna no Brasil. Na Região Metropolitana de Curitiba, essa relação vai para 1 em cada 26 pessoas (fonte: IBGE/2015). Isso significa que as atuais políticas públicas para incentivo à construção de moradias de interesse social não suprem a necessidade e demanda da população. Atualmente, com uma população de 209,4 milhões de pessoas, o déficit habitacional só tende a aumentar.


A área urbana de Curitiba possui cerca de 72 milhões de m² de terrenos privados subutilizados (fonte: IPPUC) que poderiam ser ocupados por novos moradores, estes que são obrigados a sair do centro da cidade, onde se concentram oportunidades de emprego, estudo e lazer. A falta de pessoas e usos diversificados nos centros urbanos gera a falta de sensação de segurança, e o principal uso do centro se torna somente para um local de passagem ou conexão de porções da cidade, sem o objetivo de permanência e encontro de pessoas.


A oportunidade criada vinculando essas duas problemáticas é uma possível solução a incentivar o uso da cidade, dar moradia digna às pessoas de menor renda e promover a cidade do futuro por meio da criação de edifícios multiuso, onde a forma de projetar estimula a cidade compacta, reciclada, e evita-se o grande deslocamento, procurando também diminuir a poluição com meios de transporte automotores.


O modelo de cidade grande que conhecemos hoje deve ser repensado com urgência, pois o desenvolvimento desenfreado dos grandes centros urbanos brasileiros não dá espaço nem oportunidades iguais para a sociedade um desenvolvimento baseado na equidade social.


Mariana Roldo é arquiteta pela PUC-Paraná



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