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Foto do escritorDaniela Amaral

No mundo onde tudo é fotografado, não fotografei.

Atualizado: 19 de abr. de 2023


Em um momento de distração, peguei-me em busca de lembranças da minha infância e tudo o que encontrei foi meia dúzia de fotos de alguns momentos importantes. Era uma época em que se comprava filmes de 24 ou 36 poses e ansiávamos para que eles não queimassem quando os colocávamos na câmera fotográfica. Desejávamos que todas as imagens estivessem focadas e aguardávamos ansiosos a revelação. Sempre na expectativa para ver se ninguém havia piscado na hora do click, se todos estavam enquadrados ou se não tínhamos tremido na hora de “bater a foto”, não deixando a imagem desfocada.


Na busca por lembranças, pensei que devia ter me esforçado e fotografado mais os amigos perdidos. Os membros da família que já partiram ou aquele bichinho de estimação que deixou tanta saudade.


Mas, pensando um pouco mais, uma imagem seria capaz de fidelizar aquele momento em toda sua plenitude? Teria uma foto o poder de demonstrar em um pequeno pedaço de papel toda a magia daquele instante?


Aflita, lembrei de tudo que marcou a minha trajetória e vi o porquê que não foi fotografado: pelo simples fato de que não havia necessidade, pois tinha vivido cada segundo daqueles momentos. Estava tudo gravado nas minhas lembranças, as quais não eram feitas somente de imagens, mas de sons, de aromas, de risadas e, principalmente, de sentimentos.


Pois, bem! Não filmei os primeiros passos da minha filha. Não fotografei o rosto da minha mãe quando peguei o meu diploma da faculdade. E não fiz uma selfie vestida de noiva.


Sim, eu tinha esquecido de fotografar, de filmar e de registrar. No entanto, quando fecho os olhos, ainda me lembro do olhar da minha pequena, o qual transmitia o medo misturado à alegria e à sensação de vitória pelos primeiros passos. Das gargalhadas que pairaram no ar. Ainda vejo o olhar orgulhoso de minha mãe, dizendo-me: Você conseguiu. Sinto a textura macia do vestido de noiva roçando na pele, o cheiro do spray fixador no cabelo, a alegria dos amigos e da família.


E, por fim, entendo que, em tempos onde uma imagem diz muito mais que mil palavras, reinventar-se, apegando-se ao simples e banal, é antes de tudo necessário. Sim, eu não fotografei, pois, não precisava, dado que ainda está tudo aqui, todas as lembranças gravadas na infinidade de gigabites da minha alma.


Daniela Amaral



Revisão textual: Jhenyffer Nareski Correia - @j.nareski


1 Comment


Luziana Krelling
Luziana Krelling
Nov 12, 2021

Me emocionei 😥, lindo texto Dani. Parabéns!

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