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Foto do escritorDaniela Amaral

Resenha Critica: O Conto da AIA de Margaret Atwood

Atualizado: 7 de fev. de 2023


Conheça a República de Gilead, a terra prometida na qual Deus glorificou por amor à raça humana, para que ela tenha uma nova oportunidade de evolução, livre da tecnologia, que corrompe o coração puro do homem fiel à família. Sejam bem-vindos à série O Conto da Aia [The Handmaid’s Tale], baseada no livro homônimo da escritora canadense Margaret Atwood.


A história se passa em um futuro distópico, no qual os Estados Unidos são governados por uma “nova ordem” — espécie de ditadura teocrática, fundamentalista, militar e patriarcal —, que anulou as leis de garantia de direitos às mulheres. Os governantes dessa nação são homens fervorosos que impõem leis severas, sobretudo às mulheres.


Sob esse governo, as mulheres estão divididas em castas: as Martas são responsáveis pelas tarefas domésticas; as Aias, por gerar os filhos dos seus senhores, cujas senhoras são inférteis; as esposas dos comandantes, têm função apenas decorativa; as Jezebels são prostitutas para uso exclusivo dos militares de alta patente. Por sua vez, as mulheres que estão fora dessas castas são enviadas para as colônias, destinadas a trabalhos braçais.

Independentemente da casta na qual pertencem, as mulheres são proibidas de estudar, fazendo com que sejam totalmente dependentes de alguma figura masculina, que passa a ser seu senhor e supervisor.


Poderíamos pensar que é apenas uma obra de ficção e que as barbáries que ocorrem ao longo da série, como tortura emocional e física, mutilação e opressão, estão longe de nossa realidade por vivermos numa sociedade livre, com garantias de ir e vir, bem como leis que protegem o direito de dizer, pensar e agir da maneira que julgamos mais correta. Mas será mesmo?


Até que ponto podemos dizer que todas as mulheres do mundo gozam dessas liberdades?


A princípio, podemos imaginar que a obra é uma apologia ao sexo feminino e que tudo relacionado ao masculino é ruim. Todavia, na própria série vemos que o poder corrompe qualquer ser humano, independentemente do sexo e raça. Uma das protagonistas, contrária à ideia de liberdade feminina é uma mulher, amarga, sedenta de poder e que sente prazer em torturar suas aias e demonstrar seu domínio. Em uma das sessões de tortura, Tia Lydia, como é conhecida, diz: “Meninas, existe mais de um tipo de liberdade. Liberdade para e liberdade de. E é nesse momento que começamos a nos questionar qual é o nosso papel na sociedade e qual é o tipo de liberdade que de fato temos. Vivemos em sociedades que exigem de nós, mulheres, padrões inatingíveis de beleza e comportamento. Somos cobradas incansavelmente para sermos mães exemplares, esposas dedicadas, profissionais de sucesso. Somos massacradas pelo nosso próprio ego, que não nos permite ter a liberdade para e nos acorrenta a liberdade de.


Temos a ilusão que esse tipo de opressão só ocorre em alguns países, com regimes políticos autoritários e/ou dominados pelo fundamentalismo religioso, com leis inconcebíveis a nós. Às vezes, nos calamos e nos anulamos ao sofrimento de mulheres que estão ao nosso lado, julgamos que o sofrimento delas é uma escolha, um fardo que elas carregam por não reagirem contra a situação em que vivem. Nos conformamos com as regras impostas pela mídia, pela sociedade e pelas Tias Lydias, vivendo em um livre-arbítrio ilusório.


É tempo de pensar se realmente devemos exigir direitos iguais aos dos homens, sendo que não somos iguais a eles. Tendo em vista que, nossa anatomia não é a mesma, nossas necessidades e desejos são diferentes. O que podemos e devemos exigir é respeito a tudo aquilo que somos, as nossas diferenças, as nossas escolhas e ideais. Pois a beleza da vida está na diferença.




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