O Medo

— Não tenha medo! — ela ouviu.

Deu um passo à frente e se sentiu segura do que pretendia fazer.

— Siga adiante! — disse a voz que brotava de dentro da sua mente.

Ela prosseguiu, caminhou e se sentiu segura. Depois, correu, pulou e se arriscou dando um passo mais largo, até que caiu.

Nesse instante, na ânsia e num instinto quase primitivo de se proteger, ela se retraiu, e, envergonhada, recuou. A voz que lhe protegia, ou que a atormentava, esbravejou:

— Covarde!

Ela sabia que deveria seguir. Ambicionava com todas as suas forças sobreviver e, para isso, tinha certeza de que precisava se preservar.

E então, num ato de necessidade, ela se levantou e ficou imóvel, paralisada. Calculou os riscos, previu possíveis erros e acertos, até o ponto em que, novamente segura de si, recomeçou a andar, passos curtos e acautelados. Já não havia mais o receio de prosseguir, nem o temor de seguir em frente e cair, ou se machucar. O que a aterrorizava naquele momento era a completa estagnação.

— Não tenha medo — disse ela a si mesma. — Apenas siga em frente.

Ela continuou, com os passos curtos e, depois, outros largos. Suspirou, chorou e, por fim, riu. Riu de si mesma, da ignorância das pessoas que a olhavam, que acreditavam e admiravam sua força, e, com isso, se viu segura do que estava fazendo.

Até que, durante a sua jornada, já exausta de tanto caminhar, se encontrou imersa em uma enorme solidão. O medo, aquele velho companheiro de tantos anos, a havia abandonado, e ela se sentiu vazia.

Nesse momento entendeu que o medo era o seu combustível, que ele a impulsionava a concretizar tudo o que ambicionava. Percebeu que era ele que a estimulava a se superar, que a desafiava e a fazia seguir em frente.

E foi assim que ela compreendeu que era ele quem a defendia das mazelas da vida e que a levava a ir mais e mais além, encorajando-a constantemente.

Ah! A arrogância humana!

Ignoram que é do medo que nasce a coragem.

Daniela Amaral