Paulo Giffhorn
O futebol, por décadas, foi tido como reflexo da nossa sociedade. Finalmente, após mais de um século, podemos dizer que esta máxima, aparentemente, começou a mudar. O dia 08/12/2020 ficará conhecido, para toda a eternidade, como o "Dia do Basta!". A partida disputada entre Paris Saint Germain (FRA) e Instanbul Basaksehir (TUR), válida pela fase de grupos da UEFA Champions League, foi suspensa, após o 4º árbitro, Sebastian Coltescu, proferir palavras de cunho racista em direção ao assistente técnico da equipe turca, Pierre Webo.
Como era de se esperar, a atitude abominável, praticada por aquele que era para ser autoridade na partida, causou a revolta e a repulsa de todos os presentes. Diferentemente, porém, do modus operandi tristemente enraizado em nossa sociedade, ninguém “passou pano” para o ocorrido - ou tentou negar a existência do racismo. Mais do que depressa, os atletas Demba Ba, Mbappé e Neymar mostraram-se irredutíveis: ou o 4º árbitro deixava o campo de jogo ou a partida daria-se por encerrada naquele exato momento. Diante da inércia do árbitro principal, bem como dos organizadores da competição, todos os integrantes das duas equipes, sem exceções, deixaram o campo de jogo, dando lugar a um silêncio estarrecedor que abarrotou o Parc des Princes (estádio em que a partida vinha sendo realizada, na cidade de Paris/FRA).
A partir deste momento, em que um basta foi efetivamente dado à prática racista, o futebol deixou de ser reflexo da nossa sociedade. Em seu lugar, o soccer espelhou-se no amor ao próximo e no respeito, o que, convenhamos, é muito mais "sociável".
É chegada a hora de, finalmente, nos espelharmos no futebol. Atitudes preconceituosas não são normais e nem tampouco aceitáveis. O racismo não "está na moda”, como, estupidamente, horas após a suspensão da partida, afirmou Jorge Jesus (ex-treinador do Flamengo/RJ, atualmente no Benfica/POR), ele sempre esteve, nós é que jamais antes tínhamos aderido à mesma, chegando, inclusive, a negarmos reiteradamente a sua própria existência - assim como aqueles que usam “Crocs" negam-se a admitir que o adereço é totalmente “peculiar"…
Espera-se que, diferente de Dom Pedro I, após o “Dia do Fico!”, os verdadeiros heróis das nações possam, verdadeiramente, dar prosseguimento à esta nova máxima e que, tantas partidas quanto necessárias sejam suspensas, até que todas as formas de preconceito sejam definitivamente expulsas do campo de jogo.
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